Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A criação de uma estatal para cuidar da camada do pré-sal poderia ter desdobramentos sobre o mercado de capitais e sobre os investidores de maneira geral, afirmou hoje (20) à Agência Brasil a presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec/SP), Lucy Sousa. O tema será debatido no 20º Congresso Apimec 2008, que começou na noite de hoje (20), no Rio de Janeiro.
“A gente fica preocupado que haja uma injusta quebra de contrato ou uma quebra de expectativas em relação aos fundamentos que têm levadoos analistas a fazer recomendação de investimento em papéis da Petrobrás”, disse Lucy. A preocupação, em resumo, refere-se à perda de valor da Petrobras, também expressada pelo presidente da Apimec Nacional, Álvaro Bandeira. Ele disse ser contrário à criação de uma estatal para tratar das novas descobertas de petróleo na camada do pré-sal.
Segundo Bandeira, a criação da estatal poderia afetar os 1,3 milhão de acionistas da Petrobras. "O governo, no passado, estimulou o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para compra de ações e a criação de fundos específicos de Petrobrás. E, certamente, os investidores seriam os mais prejudicados nisso”, afirmou
.
A Apimec espera que o governo federal reveja a intenção de criar a estatal. “A Petrobrás tem uma história de sucesso e, mais do que estatal, ela é uma empresa dos brasileiros. E o seu capital está disperso hoje entre muitos investidores, inclusive trabalhadores que usaram seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)”, destacou a dirigente Lucy Sousa. Nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, no Ceará, que o governo ainda não tomou uma decisão sobre o assunto.
Segundo Lucy, o governo teria outras alternativas para se apropriar do valor do pré-sal, sem que fosse necessário fazer uma nova empresa. Ela entende que o posicionamento das autoridades federais sobre a matéria tem fundamentos estratégicos, “mas acho que dá para fazer uma engenharia, não mudando as regras do jogo e não esvaziando a Petrobrás”.
A presidente da Apimec São Paulo avaliou que o valor de mercado da Petrobrás poderá ser afetado por essa discussão sobre o pré-sal. A estatal apresentou a maior perda de valor de mercado na América Latina entre maio e agosto deste ano, em torno de US$ 97 bilhões, de acordo com recente estudo da consultoria financeira Economática. Isso ocorreu, apontou Lucy, muito em função da volatilidade do preço do petróleo no mercado externo e também pela saída de investidores estrangeiros da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
A percepção é que a nova estatal para o pré-sal poderá contribuir para esvaziar um pouco mais o valor da Petrobrás, disse Lucy. Os analistas de investimento, assinalou, não olham apenas para o lucro no ano corrente, quando avaliam uma empresa. Eles, acrescentou ela, enxergam para a frente, fazendo fluxo de caixa para os próximos anos, pensando no que se chama no mercado de perpetuidade. “E na perspectiva de dez anos ou na perpetuidade o pré-sal estava na avaliação da Petrobrás. Por isso, uma coisa já no futuro impacta no preço presente”, afirmou.
Lucy defende que seja feita uma engenharia para a exploração do pré-sal, mas opinou que o governo deveria “deixar as coisas como estão”, referindo-se à Petrobras.
Já o presidente da Apimec Nacional acredita que o governo não fará algo que afete os investidores da Petrobras. "O governo tem sabido lidar com a coisa pública e com os marcos regulatórios", avaliou.
Para Bandeira, a declaração de Lula de que ainda não foi tomada nenhuma decisão a respeito do pré-sal tranqüiliza analistas e acionistas. Mas, caso a estatal seja realmente criada, o presidente da entidade acredita que a medida poderá gerar uma briga na Justiça. Ele, no entanto, afirmou que é prematuro falar sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário